Boiando em Moçambique

Desventuras de Rafael Moralez na África

Suvaco!

3 Comentários

Moleques perto do trampo!

Moleques perto do trampo!

Aqui no escritório as lâmpadas ficam acesas o dia inteiro. Tem janelas grandes e um sol de rachar lá fora, mas mesmo assim as lâmpadas ficam acesas. Como tenho uma espécie de TOC em relação a lâmpada acesa e torneira aberta sempre apago a luz aqui. Tem uma em especial que fica no corredor que eu sempre apago, e tem um sujeitinho que acende. Ontem ele acendeu, e eu apaguei, isso aconteceu umas três vezes durante o dia, entre idas e vindas da cozinha e do banheiro, apagava a luz. Na última ocasião em que ele acendeu a luz, esperei um pouco, quando levantei e estava com o dedo no interruptor pra apagar ele saiu da sala e me viu, apaguei do mesmo jeito. Como todo africano ele não moveu um músculo da face, mas devia estar pensando alguma coisa por dentro que não tenho o mínimo interesse em saber.
Aliás eles deixam tudo aceso, aberto e ligado, a torneira da cozinha fica aberta também, a água indo ralo abaixo e todo mundo conversando e dando risada. É bonito de se ver. Daí você diz: “Pode fechar a torneira?”, e elas respondem, “Estou a usar!”, com o sotaque lusitano fazendo jus a maneira de utilizar a água.
Na frente do escritório tem um bairro bem popular. No Brasil seria chamado de favela, mas para os padrões locais de assentamento urbano é um bairro comum, não dividido em ruas, mas sim com vielas tortuosas que ainda não percorri, e pelo jeito nem vou me meter lá no meio. Eles gostam muito de assitir filmes e tem uma espécie de cineminha, composto por um aparelho de TV e um DVD, em que pequenos grupos ficam a ver filmes o dia todo. Ah… …são uns playboys esses africanos, bons vivants, curtem a vida, o dia e o jeito quente que o continente aplica sobre o ser. O detalhe é que daqui onde estou não consigo ver a TV, porque está lá no meio do tortuoso-bairro-que-não-vou-visitar-pelo-jeito, mas o sistema de som dos filmes é dividido com todos através de um potente, e de baixa qualidade, alto-falante. Então passamos o dia a escutar filmes aqui no escriptorium. As vezes rola uns de terror e da pra saber os picos de tensão típicos do cinema norte americano. Semana passada rolou um em que tocava uma música que se parecia com aquela “…chorando se foi, nã, na, na…” sabe?
Mas eles gostam mesmo é das comédias românticas… …ah, o viver africâner!! Na verdade eu não sei que filme eles assistem. Mas sei bem o que eles estudam, o que ando lendo de relatório de ensino do governo do Moçambique não tá no gibi!
As mulheres se vestem com uns panos coloridos enrolados na cintura por cima da saia, no tronco e carregam os filhos de um jeito muito legal, chamam Kapulana, muito bonito.
Como nem sempre a água ta gelada como uma bala tipo halls extra-forte, na verdade é uma que chama Fishermans friend Super strong mint, e tomo água na seqüencia, assim parece que ta geladinha. Comprei um pacote grande dessas balas, tinha nada pra fazer quando passei pelo aeroporto de Johanesburgo, uns dólares marcando bobeira na carteira… …gastei tudo em bala!
Amanhã vou a uma feira popular. E pergunto:
Tem alguma coisa aqui que não seja popular?
Aqui não se usa desodorante, o povo tem uma catinga desgraçenta, e para eles ta tudo ok. O garçom que traz a sua comida para a mesa segurando o prato com o dedo parte sobre o bife também tem futum suvacal. Você sente a uns 3 metros de distância. É sério! Amigo meu que morava no outro hotel da cidade disse que uma vez pediu uma toalha a camareira e ela trouxe debaixo do braço. Impossível usar, pediu pra trocar, e ela veio de novo com a toalha debaixo do braço. Ele pediu pra trocar pela terceira vez e disse bem claro carregue com as mãos, não coloque debaixo do braço. Parece brincadeira mas não é. Impossível usar a toalha, bote fé. Parece que o povo acorda cedo procura um gambá e passa no sovaco.
Vou comer, tô com fome!
Abraxas
Rafa

Autor: rafaelmoralez

Rafael Moralez é natural do interior de São Paulo, formado em Filosofia, possui Doutorado em Planejamento e Gestão do Território. Produziu durante muitos anos o Fanzine Produto do Ócio, publicação que ainda mantém ativa com edições esporádicas. Também lançou os dois livros de história em quadrinhos Peixe Peludo em parceria com Rodrigo Bueno. Tem mais dois outros livros publicados, um relato de viagem chamado Boiando em Moçambique, editado pela Balão Editorial, e o livro acadêmico Energia, desenvolvimento e sustentabilidade, este última em parceria com o professor Arilson Favareto, pela Editora Zouk. É o criador e organizador da Feira de Publicações independentes Mercado de Peixe, que já está na quinta edição. Como ilustrador colabora com a revista de Filosofia Política Fevereiro.

3 pensamentos sobre “Suvaco!

  1. Estas são as aventuras do Super Moralez!

  2. Amigo, estou lendo seu blog e estou sentido que preciso dizer isso: quando voltar, eu te pago uma cerjeva pela bravura.

  3. rafa! esses teus escritos são mesmo um barato total! muito divertido ler isso tudo! Devo concordar com seus colegas aqui que tb vou ter que te pagar uma breja (quando VOLTARMOS TODOS) no brasilis!
    E esse “kapulana” aí, é aquele jeito de amarrar o neguim com o próprio pano? Descobre aí certim como faiz! e dispois me conta!?!? Melhor que esses carrinhos de prástico que aqui andam com 2,3,4 branquelinhos que nem sabem quem os empurra, sem falar que o próprio ato já diz: EMPURRAR! E Afinal de contas, to vendo que o negócio ai é complicado….o que vc tem comido? rola um arroz+feijão+salada? to preocupada com vc! rs bj

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