Boiando em Moçambique

Desventuras de Rafael Moralez na África

Dia normal

1 comentário

Inocencio, um brother local!

Inocencio, um brother local!

Ontem voltando do trabalho, por volta das 7 da noite, a pé, escuro pra burro, porque tem uma lâmpada de 30 velas a cada 400 metros e todo mundo é negão, então não consigo ver ninguém, e eu lá no meio parecendo um marca texto pilot amarelo, mó bandeira, mas fui comprar umas bananas numa banca que nem sei por que parei ali, era o pior lugar para comprar banana, todas as outras bancas tinham frutas melhores, mas comprei mesmo assim, fiquei com vergonha de ir embora. Caipirice minha mesmo.

Depois fui numa vendinha dum indiano e só tinha uns queijos podrões lá. Comprei mesmo assim porque estava com vontade de pão com queijo, aproveitei e tomei um refrigerante local, chamado Sobo e que tem o delicioso gosto de corante amarelo. Depois fui na mesquita que não me deixaram entrar, insisti, mas de nada adiantou, disse que precisava “ver-lá-dentro” pois iria embora do país amanhã, eles disseram que tudo bem, desejaram boa viagem e fecharam o portão. Amanhã volto lá e digo que meu vôo atrasou, e que agora é sério mesmo, preciso entrar pra rezar ou vou me foder com o Alah.

Antes de ir pro hotel, que chama Smart Náira, um hotel de uma estrela com serviço de cinco estrelas, está escrito na placa da porta, voltei da mesquita para o indiano porque tinha esquecido de comprar água, comprei 4 garrafas e ele não tinha troco, me deu em chicle (artimanha universal essa de dar bala e chicle no lugar do troco), devolvi o chicle e disse que queria meu dinheiro mesmo. Ele disse de novo que não tinha, então devolvi as águas e fui comprar em outra venda, que descobri que fecha cedo. Voltei ao indiano e peguei as águas e as balas de troco. Desgraça!

Aqui tomo água pra caramba, e há entre os gringos a paranóia de que tem que ser mineral de garrafinha, então até nos banheiros para escovar os dentes usa-se água mineral, eu uso da torneira mesmo. Desconfio que tem gente que até lava a mão com água de garrafinha. Bom… …aí é pobrema deles! Mas é necessário beber muita água, o clima é quente e muito seco e ficar doente aqui não é uma boa estratégia, então manter-se hidratado é legal. O que ocorre é que todo mundo, branco, anda o tempo todo com uma garrafinha de água na mão, pra cima e pra baixo, então parece que você está numa rave, só falta o trance-jungle-beat-disco-mega-mix-dildo-turbo-5000, daí os branquelo ia delirar.

Autor: rafaelmoralez

Rafael Moralez é natural do interior de São Paulo, formado em Filosofia, possui Doutorado em Planejamento e Gestão do Território. Produziu durante muitos anos o Fanzine Produto do Ócio, publicação que ainda mantém ativa com edições esporádicas. Também lançou os dois livros de história em quadrinhos Peixe Peludo em parceria com Rodrigo Bueno. Tem mais dois outros livros publicados, um relato de viagem chamado Boiando em Moçambique, editado pela Balão Editorial, e o livro acadêmico Energia, desenvolvimento e sustentabilidade, este última em parceria com o professor Arilson Favareto, pela Editora Zouk. É o criador e organizador da Feira de Publicações independentes Mercado de Peixe, que já está na quinta edição. Como ilustrador colabora com a revista de Filosofia Política Fevereiro.

Um pensamento sobre “Dia normal

  1. e a mesquita?
    voltou e conseguiu entrar? rsrs

Deixe um comentário