Boiando em Moçambique

Desventuras de Rafael Moralez na África


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Corrida de Kart

Fofinha, a place to be!

Fofinha, a place to be!

Sexta feira aqui é chamado de Dia do Homem, no começo pensei ser
alguma coisa de igreja ou coisa assim, mas não, o Dia do Homem
consiste na liberdade do sujeito sair na sexta, beber, fazer o que
quiser e voltar para casa sem dar satisfações a ninguém, é o dia da
farra, dia em que eles voltam a ser solteiros. Tive a lúdica
oportunidade de participar de tal festejo, que acontece todas as
sextas feiras. Não é nada demais. Consiste em uma bebedeira grande, o
único diferencial é que as mulheres não reclamam depois. Como minha
cônjuge está no Brasil, então não corria esse risco. Agora sim pois
cometo o deslize de escrever e mandar com cópia para ela. Prova de que
não fiz nada de errado.
As mulheres aqui não tem vez em nada, elas não participam de nenhuma
tomada de decisão, o único direito delas é trabalhar nas Machambas
(que é a roça local para subsistência), cortar e carregar a lenha na
cabeça, cuidar dos filhos e arrumar o que comer, o homem bebe e fica
andando de lá pra cá de bicicleta.
Abridor de garrafas aqui chama abre-garrafas, não adiantou eu
argumentar que chama “abridor” apenas, pois eles dizem que abridor é
algo que abre tudo, e aquele objeto abre apenas garrafas. Faz sentido.
Então cheguei à conclusão que no Brasil muitas vezes o abridor de
latas, que tem abridor de garrafas junto no mesmo objeto, é chamado de
abridor. Isso não mudou a vida de muita gente aqui, eles não
entenderam. Aliás o raciocínio do moçambicano é igual ao do português,
é lógico, mecânico e no meu entender lento. Eles assistem ao mesmo
filme duas vezes seguida e se interessam por ele da mesma forma, como
se estivessem vendo pela primeira vez, olhos fixos na TV, não percebem
mais nada do que acontece em sua volta, hipnotismo total.

Pedi ao cozinheiro do hotel que ele fizesse purê de batatas, o diálogo
aconteceu da seguinte forma:
– Você sabe fazer purê batatas?
– Sim, sei.
– Então gostaria que hoje no jantar você fizesse purê de batatas com
frango, ok?
(Neste momento vejo sobre a bancada da cozinha uma pilha de batatas
cortadas em formato de fritas)
– Não é possível, estão cortadas para fritar.
(Detalhe que tem 2 hóspedes no hotel e o restaurante funciona para
atender estes dois hóspedes, sendo que um deles sou eu.)
– Mas… …basta pegar a quantidade de batatas que você ia fritar
para meu prato, cozinhar na água e amassar!? Certo!?
– Não é possível, estão cortadas para fritar.
– Mas dá na mesma!!!! Não importa o formato, para purê vai amassar
depois, então pode ser feito purê de batatas mesmo com elas cortadas
no formato para fritar, certo!?
– Não é possível, estão cortadas para fritar.
– …
– … (Silêncio em que o cozinheiro olha para você sem mover um
músculo da face, não há qualquer indício de movimentação interna ou
raciocínio no ser)
– ok, você venceu, batata frita!

O pior é que isso é corriqueiro, em todas as situações eles agem
assim, o Lucas que trabalha comigo acenou com um cigarro na mão para a
copeira aqui do escritório e disse “Sra. Laurentina traz uma caixa de
fósforos por favor!). Ela prontamente entrega a ele uma caixa de
fósforos vazia. Ele diz mostrando o cigarro: “Mas Laurentina está
vazia essa caixa!!“, ela responde, “Mas o Sr. Pediu a caixa, eu tirei
os fósforos de dentro.”

Tem um caminhão de situações, mas por hoje chega!
Só mais uma. Hoje no cardápio tinha arroz, feijão, bode ensopado e
camarão frito.
Sensacional!
Coloquei tudo no mesmo prato e mandei ver. Vai saber quando teria
oportunidade de comer bode com camarão de novo!!

Abreize!