Boiando em Moçambique

Desventuras de Rafael Moralez na África

Oficinas

3 Comentários

Outra bicicletaria local.

Outra bicicletaria local.

Fui adquirir uma bicicleta dias atrás. Antes de mais nada fiz uma longa pesquisa entre as duas marcas locais, que por sinal fazem o mesmo modelo. Então não tendo muito a pesquisar fui lá e escolhi a que tem o nome de Hunter, fazendo assim justiça ao espírito de gringo-na-africa. Hunter!

Faltou dizer que as marcas são locais da China, como em todo lugar do mundo aqui os chineses estão a invadir ora pois! Eles vendem tudo quanto é badulaque pros moçambicanos, que, desprovidos de tudo quanto é bem material compram na medida do possível. E esse possível é bem pouco!

Mas voltando a bike, numa dessas pesquisas fui conversar com um cidadão no fundo de uma loja que sentado no chão montava as bicicletas. Desnecessário dizer que o lugar era imundo e que no lugar de chaves e ferramentas diversas ele fazia tudo com “um” alicate. No momento da conversa ele montava os raios do aro, e percebi que conforme ele falava alguma coisa reluzia na boca dele, pensei ser um aparelho de ortodontia, mas logo descartei pois o cara nem dentes tinha. Cheguei mais perto e fiz outra pergunta, quando ele falou percebi que todas as porcas e arruelas do aro estavam dentro de sua boca, ele colocava ali para ser mais fácil tirar e colocar na montagem do aro. Então observei, e vi, que ele separava na boca a porca e a arruela para a montagem das rodas, intercalando e otimizando a linha de montagem, que se resumia a ele mesmo. Uma hora saia da boca uma arruela, que era colocada em seu lugar, depois vinha uma porca, que sempre traz consigo um pouco mais de baba, dá-se um apertãozinho e vamos para o outro raio. Terminada esta roda ele não titubeou e pegou um montinho de porcas e arruelas que estavam no chão, cheio de óleo e areia, deu umas batidinhas pra tirar o grosso e colocou tudo na boca, iniciando assim a montagem de mais uma roda. Oficina moderna. No pneu da minha bicicleta tem um pouco de baba africana, nada mais colonizador ou estrangeiro dominante que isso.

Descobri que existe também o dia da mulher que é 7 de abril, devia ser 1º de abril, maior mentira. Elas sofrem o ano inteiro e ficam com um dia só para elas. No dia da mulher elas podem sair a tarde e beber, mas depois tem que prestar satisfação aos maridos, e quando anoitece voltam pra casa. Tudo mentira que é dia delas.

Conheci um cidadão que chama Verniz Manjericão, você pode achar que é brincadeira mas não é! Os portugueses que aqui estiveram não sabiam escrever os nomes dos africanos, então colocavam a função ou alguma outra palavra que tivesse relação com a família do cidadão. Tive uma reunião com uma pessoa chamada Sr. Tapuletha Trabuco. Mas mantive a seriedade o tempo todo!

Ah… …conheci também uma agradável senhora gringa americana que está fazendo o lindo trabalho de traduzir a bíblia para os idiomas africanos como o Inhungue, assim ela poderá catequizar toda a África com a palavra do Jéza nos dialetos locais. Não é bunitu isso! Jéza is beautiful! Os costumes, lendas e tradições locais que se fodam, vamos enfiar o salmos goela abaixo e colocar todo mundo de joelho pra repetir o credo! Agora todo mundo com a mão pro alto!! É parecido com uma micareta, mas tem menos cerveja!

Fui!

Abreizes!

Quero deixar aqui meu agradecimento a Geraldo Martins por ter dado a idéia do blog (vejam link para o blog do Geraldo nos links que indico) e ao Mateus Potumati (vou colocar um link para o Mateus logo mais) que também me incentivou e construiu a página para mim. Valeu mesmo! Thanks!

Autor: rafaelmoralez

Rafael Moralez é natural do interior de São Paulo, formado em Filosofia, possui Doutorado em Planejamento e Gestão do Território. Produziu durante muitos anos o Fanzine Produto do Ócio, publicação que ainda mantém ativa com edições esporádicas. Também lançou os dois livros de história em quadrinhos Peixe Peludo em parceria com Rodrigo Bueno. Tem mais dois outros livros publicados, um relato de viagem chamado Boiando em Moçambique, editado pela Balão Editorial, e o livro acadêmico Energia, desenvolvimento e sustentabilidade, este última em parceria com o professor Arilson Favareto, pela Editora Zouk. É o criador e organizador da Feira de Publicações independentes Mercado de Peixe, que já está na quinta edição. Como ilustrador colabora com a revista de Filosofia Política Fevereiro.

3 pensamentos sobre “Oficinas

  1. ‘Os costumes, lendas e tradições locais que se fodam, vamos enfiar o salmos goela abaixo e colocar todo mundo de joelho pra repetir o credo!’ [faço minhas, as tuas palavras!]

  2. verniz manjericão!!!!

  3. Se o cara guarda as porcas e ruelas na boca, onde será que ele põe os parafusos?

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