Domingo de manhã sempre falta luz. De tarde também. E se acaba a luz acaba a água junto porque ela só fica disponível dentro da casa através de uma bomba que é ligada sistematicamente para suprir as necessidades dos moradores. Foram os portuga espertões que fizeram uma casa com a caixa d’água no nível do chão, assim você sempre vai precisar de uma bomba. E aqui eles não falam luz, mas sim energia. Então é assim, domingão sem energia, você acorda não tem água pra tomar banho, escova o dente com água mineral e vai pra rua com ramela nos zóio procura algum lugar com gerador pra tomar café da manhã. Isso tudo num calor de 38° C as 10:30 da manhã. É uma gostosura!
Mas nesse domingo fiz um esquema diferente. Programei de acordar as 5:00 da manhã, assim ainda pegava o último suspiro de energia e saia de carro rumo a Boroma, um povoado a uma hora daqui que tem uma igreja que os portuga construíram (os mesmos da caixa d’água no nível do chão).
Fiz isso mas quando acordei as cinco já não tinha mais energia. Maravilha! Saí e fui caçar a estrada pra Boroma, foi fácil! Uma horinha, um pouco menos e eu tava lá! Muito bonita a igreja e o internato ao lado. Tudo mal conservado, como podem ver nas fotos, mas ainda funcionando. Assisti a uma missa católica em Nhungue ou Inhungue ou Ynhungwe, como preferir, esse é o idioma local, totalmente incompreensível, não tem nenhuma semelhança com o português.
No início a igreja foi enchendo e ninguém sentava no meu banco, até que ficou eu sozinho no banco e todo mundo apertado nos outros, daí veio uma criançada e sentou do meu lado. O padre fez o sermão em Nhungue e depois resumiu em português olhando para mim, prestei atenção e acenei positivamente com a cabeça, só eu ali não falava Nhungue, então foi muito gentil da parte dele não acham?!
Um espetáculo a parte é a música e as danças da missa, tambores e chocalhos com um canto muito harmonioso e bem executado. Gritos que lembram o candomblé e uns passos de dança bonitinhos executados pelas garotas adolescentes. Tudo na medida certa, muito bom gosto tem esse pessoal. Aliás eu gravaria um disco deles se tivesse uma gravadora, ou um gravador. Tirei umas fotos. E fiz uns vídeos meio escondido. Mas ainda não descobri como colocar vídeo nesse blog aqui.
Depois dei um rolê pelos prédios e fui ver uma nascente de água quente que fica lá no meio do nada. Saí com o Ministro que estava celebrando a missa e ele me mostrou o caminho. Mas pra que água quente num lugar como esse. Um sol fortíssimo torrando o cerebelo e eu lá enfiando a mão numa mina de água quente… …pensei bem e vi que tinha alguma coisa errada ali!!! Isso não pode estar certo. Entrei no carro e fui embora tomar tônica com limão e bastante gelo.
Amanhã vou voltar lá com uma brasilerada que quer ver o potencial arqueológico da região. O engraçado é quem vem os deslumbrado que nunca saíram do escritório e vira pro habitante local e diz:
– Gostaríamos de estar verificando os stakeholders para acionarmos o budget de nossos PV da central com os parceiros que fazem o link com todo sincretismo cultural Brasil/Moçambique/Brasil e porque não Moçambique de novo!!!
E o moçambicano que mora lá no meio do nada e viu carro duas vezes na vida olha pros almofadinha de brinquinho vestido de Indiana Jones com cara de quem não quer aquele povo ali não!
Agora voltou a força, a luz, a energia!
O som de Trilha sonora do filme Ed Wood
Apraças!
Rafa
9 de novembro de 2009 às 20:58
Muito bom até aqui! A árvore é lindona, sim.
10 de novembro de 2009 às 14:00
Oi Rafa…permita-me chama-lo assim, vc não me conhece, mas sou muito amiga de seus pais, sr Moralez e dona Ana. O sr. Moralez trabalha comigo aquí no jornal Voz da Terra, e a dona Ana conheci através dele, de vez em quando nos encontramos na missa. Domingo passado estava almoçando com meu pai e a esposa dele, que não é minha mãe rsrsrs.Ela tem um filho que se chama Alexandre Silva Carneiro, lembra dele? Ele lembra de você, parece que vcs foram amigos de infância.
Enviei o seu blog hoje para o Alexandre, com certeza vai entrar em contato. Ele é executivo da Gol, muito inteligente tbém.
E por falar um pouco em vc…quantas aventuras hem!!!
Nós moramos aquí e nem nos damos conta de que o mundo lá fora é tão diferente, estou gostando de conhecer um pouco desses lugares.
Deixo aquí meu abraço, foi bom falar com vc, tudo de bom e fique com Deus.
Gina.
10 de novembro de 2009 às 23:17
Essa arvore vermelha é um caso a parte…e as menininhas na missa é outro caso a parte e o nenê nas costas da mãe fecha c/ chave de ouro.
Já te falei que o Blog tá show?! Falei não?!
26 de janeiro de 2010 às 10:43
Obrigado por me ter recordado a terra que me viu a crescer. Boroma é um amor espero que haja mais pessoas com estas iniciativas.
26 de janeiro de 2010 às 11:19
Olha Ralfa permita-me chamar por este nome como quem já o conhecesse a bastante tempo pela simpatia de fazer conhecer o mundo daquela zona de académicos,filósofos e herois que muitos depois de partirem esqueçem. Nunca me esquecerei das noites dançantes no Chiwanga, o mergulho no rio Zambeze no Nyankuluzo e a pesca no inverno no pântano Thawe e as noites de Natal no templo de S. José com o padre Luís coadjuvado com os senhores Abílio Cussaia e Manuel Canhimbo. O barulho então dos burros dos Senhores Mulenza e Chazia. Boroma minha terra natalícia um dia voltarei. Aquele abraço do tamanho do mundo!!!
14 de fevereiro de 2012 às 22:51
Realmente o lugar e vc tem razão eu conheço o local é lindo e abandonado pelos governantes de Tete.
Borges de Belo Norizonte MG
20 de fevereiro de 2012 às 3:43
Parabéns pelo lindo documentario, Eu hoje moro em Tete por trabalhar na Vale, e já tive a oportunidade de ir a vários lugares de Moçambique.tenho um blog acesse;
http://www.encontrocomborjao.blogspot.com
abraço
Borges